top of page

A Literatura e o Crescimento Espiritual

Qual é o seu livro preferido? Essa é possivelmente uma das perguntas que mais fazemos quando estamos conhecendo alguém, e não é sem razão; nossas preferências por livros mostram um pouco dos nossos gostos, nossos interesses, nossas paixões.

 

Muitos de nós já passamos por épocas em que não conseguíamos largar um livro, cativados pelo mundo mágico criado por um autor de ficção. Livros nos levam a lugares fantásticos, forçam a nossa mente a pensar de maneira mais profunda sobre assuntos específicos, e podem até mesmo mudar nossas opiniões sobre pontos importantes da vida.

 

A Bíblia, como o livro acima de qualquer livro, segue uma dinâmica parecida, revelando os detalhes do plano divino, passando por grandes arcos da criação, queda, redenção e consumação, nos mostrando o único meio pelo qual podemos nos relacionar com Deus — Jesus Cristo, o perfeito Deus-Homem, que morreu na cruz em nosso lugar para nos limpar dos nossos pecados. A Bíblia, nesse sentido, é um livro autossuficiente, nos dando todas as informações que precisamos saber sobre como ter um relacionamento com Deus, e como viver à luz desse relacionamento (Timóteo 3.16 e 17). Mas isso não significa que livros escritos por autores humanos (não-inspirados) não sejam úteis na nossa caminhada espiritual.

 

O objetivo deste editorial é nos forçar um pouco a pensar por que ler literatura cristã (e em certos casos, até mesmo a secular) pode ter efeitos espirituais extremamente positivos. Vamos começar entendendo qual é a base para lermos bons autores cristãos (ou livros sobre teologia e vida cristã). Depois vamos analisar se a literatura de ficção é realmente útil, ou se devemos reservar tal tipo de leitura para nossas crianças. Finalmente, vamos pensar em dicas práticas de como manter um bom hábito de leitura, usando de maneira sábia os bons recursos que Deus nos deu.

 

Seguindo Bons Mestres

 

João diz em seu Evangelho que, se alguém tentasse escrever tudo o que Jesus fez em seu ministério terreno, não haveria livros suficientes no mundo pra completar a tarefa (João 21.25). E em certo sentido, a quantidade de livros produzidos expondo a Bíblia de maneira direta ou indireta, nos ajudando com a aplicação de princípios específicos, é um reflexo disso. Se pararmos para pensar um pouco, esse processo de criação de conteúdo explicando/expondo as Escrituras é, de certa forma, bíblico. O início de 1 Coríntios nos mostra como diferentes mestres (Paulo, Pedro e Apolo) apoiaram a igreja de Corinto, ensinando a Palavra de Deus. Num contexto de uma igreja que se dividia por preferências de pregadores, Paulo dá os fundamentos de um ensino bíblico:

 

“Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor;

e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica.

Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto,

o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um;

pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo;

e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará.”

(1Coríntios 3.10–13)

 

É necessário, então, que todo ensino no contexto da igreja seja baseado no Evangelho, o fundamento que encontramos nas Escrituras — isso não é negociável. Baseado nesse fundamento, Deus continuamente levanta bons mestres para nos ensinar, o que ocorre principalmente por meio da pregação pública da Palavra. Mas do mesmo jeito que apreciamos quando a Palavra é pregada do púlpito, podemos ser gratos por uma exposição detalhada do texto bíblico na forma de bons livros de teologia. A história da igreja nos mostra inúmeros bons mestres que, maravilhados pela grandeza de Deus e a profundidade do Seu amor mostrado no Evangelho, devotaram seus esforços em produzir obras que foram de grande utilidade para cristãos de todas as eras. Assim, investir parte do nosso tempo em leituras que nos mostram as maravilhas da Palavra de Deus e a aplicação do Evangelho nas diversas áreas de nossas vidas é reconhecer que precisamos de ajuda no nosso crescimento espiritual, e que o bom ensino de irmãos mais sábios que nós, pode ser um instrumento de Deus nesse processo.

 

A Ficção que Edifica

 

É interessante ver como o impulso criativo faz parte da nossa natureza humana, e a produção de literatura de ficção (mesmo em meios seculares) é uma consequência direta disso. Como cristãos, sabemos a origem desse impulso: fomos feitos imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26), cuja criatividade é vista de maneira escancarada na criação. Toda a criação aponta para a existência de um Criador que é perfeito, sábio e poderoso, o que nos leva à adoração. Esse impulso criativo está também no nosso coração; na nossa falta de poder, criamos nossos pequenos mundos com histórias diversas que refletem um pouco da nossa cosmovisão. Parte da nossa motivação em criar e consumir histórias vem justamente de sermos imagem de um Deus que não só cria, mas que se alegra na Sua criação (Gênesis 1).

 

Mas ler ficção nos edifica espiritualmente? Em um editorial de muito tempo atrás, falamos sobre como ler ficção de maneira bíblica, traçando um paralelo entre os quatro temas-chave da Bíblia (criação, queda, redenção, consumação) e histórias de maneira geral. Isso treina a nossa mente a interpretar o mundo de maneira bíblica, o que é extremamente útil na nossa caminhada cristã. Podemos ler livros como “Anne de Green Gables” e nos maravilhar através dos olhos de uma criança, observando a criação de Deus e tentando entender as pessoas com seus problemas ao seu redor. Ou livros como “Mulherzinhas”, e ver como princípios cristãos podem ser estabelecidos na literatura secular e como o desafio de uma doença terminal se relaciona com a nossa fé. Podemos ler “O Senhor dos Anéis” e nos vermos em meio a conflitos e escolhas morais, buscando encontrar esperança nos lugares corretos em meio à escuridão que não parece diminuir. Ficção nos imerge em situações, nos coloca no lugar do personagem principal e muitas vezes força a nossa mente em direção à adoração, lamento, ou desejo por justiça.

 

Dicas de Leituras Produtivas

 

Espero que esse pequeno texto tenha ajudado a entender melhor o valor da literatura no nosso crescimento espiritual. Mas aqui é importante deixarmos um ponto bem claro: como cristãos, somos chamados unicamente a ler a Bíblia. Deus não nos dá nenhum tipo de ordenança no sentido de tornar a leitura de outros livros uma obrigação. Ainda assim, esse nos parece um ótimo recurso dado por Deus para a nossa edificação. O pregador do século XIX, Charles Spurgeon, nos dá a chave para o equilíbrio: “Visite muitos bons livros, mas viva na Bíblia”. Pensando nisso, elaboramos algumas dicas que podem ser úteis para tornar as suas leituras mais produtivas.

 

  1. Faça uma lista de livros para o ano, considerando assuntos que te interessam ou que você deseja crescer em conhecimento/aplicação da Palavra. Mas seja realista e não arme uma armadilha para si mesmo; se você não costuma ler muito, comece com livros pequenos e um número menor de livros. Aplicativos como o Goodreads podem te ajudar traçar essas metas e manter um registro dos livros já lidos.


  2. Tome notas! Isso vai te ajudar a lembrar de coisas que te chamaram atenção, ou que você achou importante. Aqui vale até mesmo escrever na margem do livro.


  3. Faça parte de um clube do livro na sua igreja. Se ela não tem um clube assim, comece um! Ler com um objetivo (edificação mútua em discussões sobre um livro) pode ser o incentivo que você precisa. Ter a pressão de datas fixas para ler um livro, ajuda de vez em quando.


  4. Tenha um parceiro(a) de prestação de contas. Isso vale principalmente para livros sobre áreas que você deseja crescer espiritualmente. Que tal desafiar alguém esse ano para ler um livro juntos?


  5. Aproveite bem o seu tempo. Talvez a meia hora que você passa em redes sociais de manhã possa ser colocada em uma atividade mais edificante. Todos temos tempo que poderia ser melhor utilizado nas nossas agendas.


  6. Se você se encontra sem tempo para ler, mas adora ouvir podcasts na sua ida para o trabalho, audiolivros podem ser uma ótima opção também.


  7. Um ponto importante para todo e qualquer livro é ser ativo na leitura. Não é apenas porque eu escolhi um livro bem recomendado de um ótimo autor que todas as ideias vão ser alinhadas com uma teologia ortodoxa. Devemos sim escolher bons autores, mas todo conteúdo deve ser filtrado pela Bíblia. Isso também vale para ficção, onde as ideias são apresentadas de maneira mais sutil; tenha em mente de que nem sempre a alegria do personagem principal deve ser a nossa.

 

Editorial de Petrônio e Rachel Nogueira


Comments


© 2023 Igreja Batista Maranata. Todos os direitos reservados.

bottom of page