“Chegada a hora, Jesus se pôs à mesa, e os apóstolos estavam com ele. Então Jesus lhes disse:
— Tenho desejado ansiosamente comer esta Páscoa com vocês, antes do meu sofrimento.”
(Lucas 22.14 e 15)
Acredito que poucas coisas são mais agradáveis do que nos reunirmos com nossos familiares ou amigos queridos para todos juntos realizarmos uma saborosa refeição. Sim, especialmente, porque sabemos que essa é uma ocasião que vai muito mais além do que o simples ato de comer. É um momento de união e harmonia, em que compartilhamos histórias, damos risadas, nos emocionamos, dividimos preocupações e somamos soluções, enfim, é um momento em que nos sentimos mais vivos, presentes e conectados uns aos outros.
Talvez, seja por essa razão que tenho esses dois versículos acima como um dos textos bíblicos mais amados do meu coração, sobretudo, porque as palavras emocionadas de Jesus parecem flutuar entre um profundo e intenso desejo de estar junto e compartilhar aquele momento especial com Seus discípulos, com a expectativa melancólica e angustiante de tudo o que estava relacionado com o sofrimento que Ele estava próximo a enfrentar.
Jesus já sabia que estava a poucas horas da realização culminante da vontade de Deus para a humanidade, mas antes, Ele precisava reconstruir o sentido da Páscoa para fazer com que Seus discípulos compreendessem o real significado do sacrifício extremo e da morte dolorosa que Ele haveria de suportar.
Mas, o que de fato era a celebração da Páscoa judaica, no Antigo Testamento? Historicamente, a Páscoa era uma festa onde se comemorava a libertação do povo de Israel da escravidão no Egito. Essa libertação teve seu momento determinante centrado na última e mais severa das dez pragas que Deus, por intermédio de Moisés, enviaria contra Faraó e todo Egito e que resultaria na morte dos primogênitos.
Contudo, antes da última praga ser executada, e para proteger o Seu povo, Deus instruiu Moisés a orientar os israelitas a sacrificarem um cordeiro, sem defeito, e marcar as ombreiras e a vigas superiores das portas de suas casas com o sangue desse animal, de modo que, quando o anjo destruidor passasse por cima (e é daí que vem o termo Páscoa) de suas casas, todos os primogênitos, que ali estivessem, seriam poupados. Assim, na noite então marcada, Deus passou pela terra do Egito e feriu todos os primogênitos, desde o filho de Faraó até os filhos dos escravos, bem como os primogênitos de todos os animais, fazendo com que Faraó libertasse, definitivamente, o Seu povo.
Após isso, Deus ordenou aos israelitas para que esse dia lhes fossem considerado por memorial e, de geração em geração, o celebrassem como por festa ao Senhor e como lembrança perpétua (Êxodo 12). E assim, por séculos, a Páscoa continua sendo celebrada pelos israelitas.
Quando, então, Jesus se põe à mesa para comemorar a Sua última Páscoa com Seus discípulos, Ele dá um novo e mais profundo significado àquela celebração, ao pegar um pão, dar graças, parti-lo e entregar aos discípulos, dizendo: — Isto é o meu corpo, que é dado por vocês, façam isto em memória de mim. Do mesmo modo, depois da ceia, pegou o cálice, dizendo: — Este cálice é a nova aliança no meu sangue derramado por vocês (Lucas 22.19 e 20).
Naquele momento, Jesus está falando aos Seus discípulos (e a todos nós) que Ele, agora, é o Cordeiro Pascal que será imolado. Seu corpo será esmagado, castigado, traspassado, ferido e Ele mesmo entregará Sua vida na cruz em favor da humanidade para dar perfeitamente a todos os que vêm a Ele, a liberdade da culpa e da punição oriundas do pecado.
O Seu sangue derramado vai selar uma Nova e Eterna Aliança que estabelecerá um novo relacionamento entre Deus e a humanidade, inaugurando, pela graça e mediante a fé (Efésios 2.8 e 9), um novo caminho de salvação e vida eterna.
Jesus institui, então, a Ceia do Senhor, e por ter feito do pão e do vinho um sinal da promessa da Nova Aliança de Deus, Jesus ordena aos Seus discípulos que repitam essa refeição e façam isso como lembrança do Seu sacrifício em favor deles e de todos os que vierem a crer nEle e confiarem em Sua obra redentora.
Mas, ainda existe algo na Ceia do Senhor que inunda nosso coração de alegria e esperança, porque Jesus não fala somente de Seu sacrifício e da morte que estava prestes a suportar. Ele se refere também a um evento futuro que estava relacionado com a vinda do Reino de Deus (Lucas 22.18). Essa declaração antecipa a plenitude do Reino de Deus, que ocorrerá com a segunda vinda de Cristo, ao mesmo tempo em que prenuncia as Bodas do Cordeiro (Apocalipse 19.7–9), onde Cristo (o Noivo) se unirá de forma definitiva à sua Igreja (a Noiva) em uma celebração eterna, não só de alegria, paz e comunhão, mas também livre de limitações, de lágrimas, de dores, sofrimentos e morte (Apocalipse 21.4).
Ao mesmo tempo, portanto, em que na Ceia do Senhor relembramos, com uma triste alegria, do corpo e do sangue de Jesus entregues na cruz e da intensidade do sofrimento que Ele suportou para nos redimir, somos espiritualmente fortalecidos pelo pão e pelo vinho, ao entrarmos em profunda comunhão com Cristo e com os irmãos e ao celebrarmos todos juntos esse memorial, como um só corpo, um só rebanho, um só pão, uma só família e uma só igreja, que aguarda com expectativa, adoração e júbilo a volta de seu Redentor e do banquete eterno, com a mesa farta que Ele mesmo está preparando para todo o Seu povo.
Que privilégio e que alegria para todos aqueles que já estão em Cristo poderem se achegar à mesa do Senhor para participar da Sua Santa Ceia e relembrar, com submissão e máxima reverência, o maior ato de amor e misericórdia de Deus, que não poupou o Seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós. Que emoção poder sentir a tristeza da lembrança de nossos pecados ser transformada na alegria de nos encontrarmos, espiritualmente, com o Cristo vivo e recebermos, dEle próprio, os benefícios sagrados do Pão da Vida.
Portanto, em obediência à ordem do Senhor, lembrem-se sempre de se lembrarem da Ceia do Senhor. Mas não a negligenciem, não a ignorem, não a desvalorizem e nem participem dela apenas para serem vistos ou para acalmarem suas consciências pelo dever cumprido.
Não sentem à mesa do Senhor com mágoas no coração, com reservas em relação ao seu irmão ou nutrindo ressentimento em sua alma. Não cometam os mesmos erros, deslizes e equívocos que a igreja de Corinto cometeu (1 Coríntios 11.17–34). Não comam do pão e nem bebam do vinho de maneira indigna ou sem discernir o corpo, para não se tornarem réu do corpo e do sangue do Senhor e para não comerem e beberem juízo para si.
Antes, preparem-se com toda oração e súplica, cada um examinando-se a si mesmo, confessando e se arrependendo dos seus pecados, perdoando incondicionalmente, reconciliando-se uns com os outros, amando de coração e, com um espírito de obediência e gratidão, pedindo ao Senhor que os encham com um desejo profundo de comunhão com Ele e com os irmãos.
E assim, à medida em que vão se aproximando da mesa do Senhor, comam do pão, bebam do cálice e anunciem, num ato de memória, comunhão e esperança, a morte do Senhor até que Ele venha, porque:
“Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, os encontre vigilantes;
em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se,
dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se, os servirá.”
(Lucas 12.37)
Editorial de Walter Feliciano
*Vide "O QUE CREMOS”: https://www.ibmaranata.org.br/sobrenos
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