Quando pensamos na santidade de Deus, logo vem a nossa mente a ideia de santidade moral. Mesmo os não cristãos estão familiarizados com o conceito da santidade de Deus como o Seu caráter moral e consequentemente a conduta do Seu povo, a igreja. Mas existe um outro aspecto da santidade de Deus que os cristãos não costumam enfatizar e que os incrédulos nem sabem que existe. Este conceito se refere à santidade de Deus como Sua absoluta grandeza e superioridade, que O faz totalmente distinto e acima de todas as coisas.
De acordo com MacArthur, a santidade de Deus se refere à “Sua grandeza inerente e absoluta, na qual Ele é perfeitamente distinto e acima de tudo e está absolutamente separado moralmente do pecado”.¹ Esta definição contém tanto uma qualidade relacional (separação de outros) quanto uma qualidade moral (separação do pecado).
A santidade de Deus se refere primeiro a Sua majestade santa. O Antigo Testamento usa a palavra hebraica qadosh (Êxodo 15.11; 1 Samuel 2.2; Provérbios 30.3; Isaías 5.16; 6.3; 10.20; 57.15; Jeremias 51.5; Habacuque 1.12) e o Novo Testamento usa a palavra grega hagios para se referirem à santidade de Deus (Marcos 1.24; Lucas 1.49; 4.34; João 17.11; Apocalipse 4.8; 6.10; 15.4) . Na visão que o profeta Isaias teve da majestade de Deus, os serafins clamavam: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Isaías 6.3). Este é o único atributo usado nas Escrituras que descreve Deus no superlativo, pois na gramática hebraica uma palavra é enfatizada pelo uso da repetição. Por isso, este aspecto da majestade santa de Deus qualifica todos os outros atributos de Deus que já abordamos ou iremos abordar nesta série. Deus não é simplesmente amor, mas amor santo. Deus não somente é justo, mas possui uma justiça santa.
A santidade de Deus também se refere à Sua santidade moral. Considerando que Deus é inerentemente superior a tudo e a todos, Ele também é separado do pecado. Deus é moralmente perfeito, odeia o pecado e exige pureza de Suas criaturas (Levítico 11.44; 19.2; 20.26; 22.32; Jó 34.10; Isaías 1.12–17; Ezequiel 39.7; Habacuque 1.13; Zacarias 8.17; 1 Pedro 1.15, 16). Este aspecto da santidade de Deus pode ser observado quando olhamos para o tabernáculo sendo descrito como um lugar santo. Era um local dedicado ao serviço do Senhor em que todos os que adentravam precisavam se purificar, ainda assim Deus instruiu a Moisés: “Pendurarás o véu debaixo dos colchetes e trarás para lá a arca do Testemunho, para dentro do véu; o véu vos fará separação entre o Santo Lugar e o Santo dos Santos” (Êxodo 26.33). O Santo dos Santos era o local mais separado do pecado e totalmente dedicado ao serviço a Deus.
Visto que já definimos a santidade de Deus e observamos algumas passagens que fundamentam esta doutrina, iremos agora listar algumas implicações deste atributo:
A Santidade de Deus é a base da nossa adoração a Ele.
A santidade de Deus gera uma distinção clara entre Deus e Sua criação. Deus é supremo e infinitamente santo porque Ele tem um conhecimento supremo e infinito do Seu próprio caráter. Esta devoção de Deus a Si mesmo, vista em Sua santidade, é um atributo necessário. Se Deus fosse devoto a qualquer coisa que não a Si mesmo, isso faria dEle um idólatra. Portanto, se o Ser mais sábio e supremo está focado em sua devoção a Si mesmo por causa do Seu próprio caráter incrível, nós como seres criados e imperfeitos devemos fazer o mesmo e focar toda a nossa devoção e adoração ao nosso Deus santo.
A Santidade de Deus é a base da nossa santificação.
Cristãos creem que a pessoa mais gloriosa do universo é Deus. Porque Deus é tão incrível, nós devemos amá-lO mais do que qualquer pessoa. Devemos ser santos como Deus é santo (1 Pedro 1.16). Quando não amamos a Deus, não estamos preparados para amar a mais nada de maneira correta, pois não estamos amando com a prioridade correta. O Senhor Jesus Cristo afirma: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento” (Mateus 22.37, 38).
A Santidade de Deus é a base do nosso anseio pela glorificação.
Vivemos como cristãos entre a justificação e a glorificação, conforme o apóstolo Paulo delineia em Romanos 8.30. Uma das características deste estágio é que vemos em parte, mas a grande expectativa da glorificação é que veremos face a face (1 Coríntios 13.12). Quando estamos desencorajados na luta contra o pecado, devemos nos revigorar na certeza da glorificação, quando não haverá mais a presença do pecado e veremos ao Deus santo face a face (1 João 3.2, 3).
O nosso Deus é santo, por isso devemos adorá-lO acima de todas as coisas, nos tornarmos santos como Ele é santo, e ansiarmos pelo dia em que veremos a Sua majestade santa e suprema com os nossos próprios olhos puros e livres da presença do pecado.
Editorial de Leonardo Cordeiro
¹ A Systematic Summary of Bible Truth (Crossway, 2017).