Na última semana, tive o privilégio de embarcar em uma viagem com minha família para celebrarmos juntos o Natal. Foi um momento incrível onde não apenas desfrutamos da companhia uns dos outros, mas também tivemos a oportunidade de louvar a Deus através de hinos e cânticos natalinos. Entre cânticos, refeições festivas e pequenas viagens para a praia, nossas conversas também se voltaram para assuntos mais profundos, e lembro-me que, a caminho da praia, uma reflexão se iniciou dentro do carro: Como identificamos o pecado? Em nossas atitudes, pensamentos e desejos? Esse questionamento nos fez refletir acerca de vários pontos importantes, e nos fez despender vários minutos preciosos. Dentre as reflexões, uma nos exigiu um tempo maior: De que maneira nossas atitudes e decisões externas são um termômetro para avaliarmos o quão alinhados estamos com a vontade de Deus? Será que estamos preocupados apenas com nossas atitudes visíveis ou estamos preocupados em ter um coração transformado, e que como consequência externa, boas obras? Após o término da viagem, comecei a esquadrinhar meu coração e percebi que tenho me preocupado apenas com minhas atitudes externas (obras) e não tenho me atentado ao meu coração com a devida atenção e seriedade que deveria.
E este assunto é ainda mais pertinente nesta época do ano. É no período de Natal que costumamos escutar: “É tempo de fazer o bem, de viver em paz!”, “Vamos doar, fazer caridades”. Afirmações que são muito bonitas e que possuem seu valor, mas que são insuficientes para vivermos uma vida de santidade e que podem esconder um coração em pecado e nos levar a um caminho perigoso de declínio espiritual. Por isso, neste editorial, iremos abordar o pecado intangível, em sua fase inicial, com a confiança de que a Bíblia nos dá o caminho para matarmos o pecado em sua raiz, antes que ele cresça.
O verdadeiro inimigo
Certamente você já deve ter escutado a seguinte afirmação: “As pessoas são boas, mas a sociedade as corrompe”. Tal afirmação nos mostra o desconhecimento do homem sobre a sua própria natureza. Somos pecadores e o somos desde nosso nascimento. O salmista nos alerta no Salmo 51.5 de que em pecado o concebeu sua mãe e que já havia pecado nele desde o ventre. Paulo nos assegura de que todos somos pecadores (Romanos 5.12), e por isso carecemos da glória de Deus (Romanos 3.23). Não há dúvida quanto à nossa natureza caída. Entretanto, por vezes, fugimos dessa realidade e confundimos o básico: pecamos porque somos pecadores, e não somos pecadores porque pecamos. Nesse sentido, precisamos estar convictos de que a nossa luta é contra nós mesmos. Somos nossos próprios inimigos e somos confrontados constantemente com essa dura, porém, libertadora realidade. Paulo nos lembra de que o Espírito milita contra a carne (Gálatas 5.17), que existe uma luta interna sendo travada constantemente (Romanos 7.18–21), e nos encoraja a nos despir do velho homem e a nos revestir do novo homem (Efésios 4.22–24).
Entretanto, somos tentados a desconsiderar nossa realidade e por vezes, assim como os ímpios, transferimos a responsabilidade do nosso pecado e não travamos a luta que deveríamos. Criamos “espantalhos”, atacamos o que não deve ser atacado e, como consequência, não vencemos a batalha, pois estamos lutando contra um falso oponente. Como cristãos somos chamados a lutar contra o pecado desde a sua origem para que não andemos como os ímpios que são escravos de seus próprios desejos e pecados (Romanos 6.17–23).
O pecado e seus níveis
Com a convicção de que somos nossos principais inimigos e que a responsabilidade sobre o nosso pecado é nossa, precisamos entender o que é o pecado. Particularmente, gosto da definição do Catecismo Maior de Westminster: “Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por Ele dada como regra, à criatura racional”.¹ Ou seja, o pecado pode ser algo passivo (falta de conformidade) ou ativo (transgressão). Podemos pecar por fazer algo que não deveríamos (ação), como podemos pecar por deixar de fazer algo que deveríamos (omissão).
Entretanto, quando pensamos em pecado, somos tentados a pensar somente em atitudes externas e visíveis, como a idolatria, blasfêmias, mentiras, roubos etc. Todavia, não é bem assim. Desde o início das Escrituras vemos que o pecado vai além de ações externas. Adão e Eva, antes de materializarem o pecado comendo do fruto proibido, desejaram ser como Deus (Gênesis 3). Caim ao matar Abel também sentiu ciúme e se irou antes de intentar contra seu irmão (Gênesis 4). Tais exemplos nos mostram que o pecado, antes de ser percebido externamente em uma ação ou omissão, já existia internamente no coração.
No Novo Testamento, continuamos vendo que desejos e pensamentos podem ser pecaminosos (1João 3.15). Sendo assim, a primeira arma que temos para lutar contra o pecado antes que ele cresça é entender que nossos pensamentos e desejos podem ser pecaminosos. Entendendo isso, estaremos mais sensíveis e atentos.
Uma guerra sem trégua
Parece algo cansativo lutar até contra nossos pensamentos e desejos, não é mesmo? Realmente é, e é assim que deve ser. Quando analisamos a vida de Paulo vemos o quanto ele sofria com as constantes batalhas que travava, talvez uma das declarações mais expressivas sobre a luta contra o pecado esteja em sua carta aos Romanos:
“Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir,
pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.
Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim.
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum,
pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero,
esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz,
e sim o pecado que habita em mim.
Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim.
Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente,
me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros.
Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu,
de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas,
segundo a carne, da lei do pecado.”
(Romanos 7.15–25)
Paulo travava uma luta incansável contra o pecado e ele entendia que ele era o principal dos pecadores (1 Timóteo 1.15). Ele entendia a seriedade da luta contra o pecado, desde o seu nascimento no coração (Colossenses 3.5). A Palavra de Deus nos alerta fortemente para que consideremos nossos corpos terrenos como mortos para essas coisas, e ainda reforça de que se, porventura, nossos olhos nos fazem pecar, que os arranquemos (Mateus 18.9). Paulo entendia que o ciclo do pecado começava com os desejos enganosos do coração (Jeremias 17.9 e 10), e que se não fosse combatido, poderia gerar a morte (Tiago 1.14 e 15). Por isso a luta contra o pecado deve ser travada ferozmente dentro de nossos corações e não somente externamente como faziam os fariseus.
Fomos comprados pelo sangue de Cristo, devemos viver uma vida ferrenha de luta contra nossos desejos carnais de modo que nossas ações externas evidenciem que não somos mais escravos de nossos desejos e pecados, mas sim de Cristo.
O caminho para a vitória
Parece clichê, mas o caminho para a vitória é o próprio Cristo. Temos a garantia de que Aquele que começou a boa obra em nós irá completá-la até o dia de Cristo Jesus (Filipenses 1.6). Cristo, por meio do Espírito Santo, está trabalhando em nós e nos aperfeiçoando segundo a Sua vontade. Contudo, nossa espera é ativa e não só podemos, como devemos, nos munir de algumas práticas para que sejamos aperfeiçoados:
Confessar o pecado: devemos confessar nossos pecados reconhecendo nossa incapacidade de fazer o correto e evidenciando nossa dependência total do Senhor (1 João 1.9 e 10).
Tomar medidas radicais: mesmo que Deus não espere que removamos membros de nossos corpos de maneira literal (Mateus 5.29 e 30), Ele leva muito a sério a nossa luta contra o pecado. Devemos reconsiderar como temos utilizado nossos corpos para vivermos uma vida santa.
Ter uma vida de prestação de contas: procuremos viver uma vida de discipulado e prestação de contas, sendo honestos e abertos sobre nossas lutas (1 João 1.6 e 7; Hebreus 3.12 e 13).
Meditar na palavra do Senhor frequentemente: busquemos nos expor cada vez mais à Palavra de Deus (Salmo 119.11).
Deus não nos deixou sós na luta contra o pecado. Pelo contrário, Ele disse que estará conosco até o fim, e nos deixou inúmeras ferramentas para que possamos combater de maneira eficaz o pecado.
Que Deus nos abençoe em nossa jornada pela santidade!
Editorial de Rafael Ceron
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