Uma das principais ironias de nossos tempos é vivermos em um mundo conectado e globalizado, porém, que carece de relacionamentos profundos entre as pessoas e consequentemente, carece de discipulado. Adultos carregam seus celulares quase como carregariam seus filhos, jovens postam nas redes sociais quase tudo que fazem e até mesmo crianças brincam e se comunicam com os amigos. A internet reduziu as distâncias, porém encheu nossos corações de distrações e nós parecemos estar mais longe do que nunca uns dos outros.
O ser humano é um ser social desde a sua origem quando foi criado do pó da terra por Deus, conforme Gênesis 2. O homem deveria servir ao seu Criador ao cuidar da terra e dominar em amor sobre as demais criaturas, crescendo dia a dia no seu relacionamento com Deus, com sua esposa e o restante da criação. Desta forma, vemos que o homem foi projetado para relacionamentos desde o princípio, tanto na vertical (com Deus), como na horizontal (com o próximo). Esta característica peculiar do ser humano faz parte de ser imagem e semelhança do Deus Trino, que está eternamente em um relacionamento altruísta entre si, Pai, Filho e Espírito Santo.
Não existiam problemas de relacionamento no jardim, mas eles apareceram logo após o pecado entrar no mundo conforme Gênesis 3. Desde então o ser humano passou do estado de amizade com Deus para inimizade contra Deus (Tiago 4.4). E por conta da rebeldia do homem ao querer ser como Deus, tanto o relacionamento com o Criador como com o próximo foram afetados. Agora o foco dos relacionamentos é satisfação pessoal e não amor sacrificial, prova disso foi o primeiro homicídio narrado em Gênesis 4.
Moças buscam o rapaz de seus sonhos afim de serem felizes e realizadas. Rapazes buscam intimidade e prazer na pornografia. O relacionamento e aprovação dos familiares são elevados ao patamar do relacionamento e aprovação de Deus. E a igreja do Senhor Jesus Cristo tem sido influenciada por esta busca pessoal, quando buscamos relacionamentos que focam na satisfação pessoal e não em discipulado, que é o padrão de Deus para o Cristão.
Algumas características essenciais do discipulado:
1. Relacionamento
A Palavra de Deus diz que Jesus em Marcos 3.14 "designou doze para estarem com ele". Isto significa que, fundamentalmente, ensinar pelo discipulado é o método de "estar com Deus". Quando Jesus escolheu seus discípulos, a Bíblia não diz que ele os escolheu para que assistissem suas aulas (apesar de que às vezes era tudo o que faziam), mas em vez disso, para estarem com Ele.
Porque nós fomos criados para relacionamentos, este primeiro ponto é aparentemente o menos difícil de se atingir, especialmente no contexto da igreja em que o contato entre os irmãos é frequente. Porém muitas vezes perdemos de vista a motivação correta para ficarmos juntos, a qual não deve ser a realização pessoal e sim o cumprimento da nossa missão dada por Deus. Você já imaginou se o nosso Senhor Jesus Cristo buscasse, por um momento que fosse, a realização pessoal antes de Sua missão? O cristianismo não existiria, mas porque o nosso Salvador sempre buscou glorificar mais a Deus ao cumprir sua missão, nós estamos sãos e salvos do nosso pecado pela fé em Cristo.
Portanto, nós devemos ter sempre nossa missão diante de nossos olhos ao nos reunirmos, assim como o Senhor Jesus tinha, e é o próprio Cristo que também define nossa missão em Mateus 28.19-20: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século."
2. Verdade
Outra característica inerente do discipulado é a verdade. Relacionamentos são importantes, porém se são desprovidos da verdade não podem cumprir a missão que Deus requer. O próprio Senhor Jesus Cristo enfatizou sempre a verdade ao ensinar e viver entre os discípulos. Em João 8.31-32: "Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."
Para que sejamos discípulos, devemos permanecer nas Palavras de Jesus, isto é, na Bíblia. Jesus é a verdade encarnada e ao conhecermos e crermos em Jesus somos libertos para sermos quem Deus planejou que fossemos e desta forma começarmos a buscar relacionamentos de forma sacrificial como Adão buscou antes do pecado ou como Jesus fez em todos os dias de Sua vida.
3. Autoridade
Outro aspecto do discipulado que flui especialmente do ponto anterior é a autoridade. O ensino de Jesus na Bíblia é ressaltado como distinto dos escribas e fariseus, Mateus 7.29 diz:
"Ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas." A primeira razão para esta distinção é a origem do Seu ensino, que fluía de um relacionamento de verdade, ou seja, de discipulado, com o Pai. Jesus diz em João 12.48-50: "Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia. Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai me tem dito, assim falo".
A autoridade de Jesus também era fruto da sua dedicação completa em obedecer a lei de Deus, legitimando de maneira muito clara por meio de sua vida santa e milagres quem detinha a autoridade. Nos nossos relacionamentos não é diferente, devemos buscar obedecer e ensinar de maneira dedicada e completa a lei de Deus, que tem a autoridade máxima (1 Timóteo 3.16-17), afim de aumentar nossa autoridade ao ensinarmos. Só desta forma podemos ajudar pessoas a conhecerem, confiarem e seguirem a Jesus.
Que nossa oração seja por mais discipulado, em um mundo com pessoas aparentemente interligadas, mas que estão mais do que nunca desconectadas do seu próximo, de Deus e do padrão de relacionamento que o Senhor estabeleceu para o Seu povo. Que a igreja de Cristo cresça ao desenvolver um amor por relacionamentos focados no cumprimento da grande comissão e não na satisfação pessoal. Que Cristo seja visto por meio do Seu corpo que é edificado por meio do discipulado, regado da verdade e ensinado com autoridade.
Editorial de Leonardo Cordeiro
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