Independentemente de ser novo na fé ou ter algumas décadas de caminhada com Cristo, com toda certeza você já se deparou com alguma questão relacionada à prática da oração. Essa doutrina tem sido muito estudada ao longo de eras, gerando debates e diferentes linhas de pensamento, mas mesmo assim, hoje podemos encontrar bons recursos que nos auxiliam no ato de orar. Ao olharmos o grande volume de estudo e materiais sobre este assunto, podemos então dizer que essa pequena palavra tem (ou pelo menos deveria ter) uma importância inversamente proporcional ao seu tamanho na vida de todo cristão.
Se você for agora na internet e pesquisar por oração, encontrará uma grande variedade de definições, o que poderá colocar certa dúvida em sua cabeça quanto à importância dela. Gosto de definir a oração como o ato de conversar com Deus. Um diálogo da nossa alma com Aquele que nos criou e nos deu vida, não em um sentido místico (com objetivo de manipular e alcançar um determinado resultado) nem de meditação (contemplação mental), mas uma comunicação direta com Deus, que se faz possível hoje por causa da obra mediadora do Senhor Jesus Cristo.
O fato de tal ação ser mediada pelo Filho de Deus deveria ao menos nos indicar a necessidade de darmos a devida importância a oração. Charles Hodge, teólogo do século 19, tem uma definição muito útil que nos ajuda a entender essa importância da oração. Basicamente, ele faz uma comparação dizendo que assim como um corpo não pode ter vida se não houver atividade, da mesma forma a alma que não tem as suas ações voltadas para Deus e vive como se Ele não existisse, está morta¹.
Você pode estar pensando agora mesmo se isso não seria uma supervalorização da oração, um exagero. Entretanto se olharmos para a quantidade de vezes em que a oração aparece na Bíblia e a forma como tal doutrina é tratada pelos autores bíblicos, principalmente no Novo Testamento, podemos ter uma noção do quão importante e vital ela é para a vida do cristão.
Podemos pegar dois exemplos bem expressivos e conhecidos, que normalmente não olhamos sob tal ótica, mas que nos ajudam a enxergar como a Palavra de Deus evidencia a necessidade de uma vida de oração. O primeiro exemplo é a atenção que o Senhor Jesus dá ao tema no meio de um de Seus grandes ensinamentos, e o segundo quando o apóstolo Paulo está trazendo algumas exortações aos romanos.
No livro de Mateus, entre os capítulos 5 a 7, temos o primeiro exemplo mencionado onde, em um dos grandes ensinamentos de Jesus, que é comumente conhecido como o Sermão do Monte, Ele ensina acerca do Reino dos céus e fornece instruções relacionadas a qual deve ser o modo de agir e de viver de um cidadão deste Reino, em contraste com o padrão que havia sido estabelecido pelos líderes religiosos da época. No capítulo 6, ao tratar de diversos temas pertinentes ao dia a dia dos cristãos, Jesus não apenas exorta dizendo que o modo como eles oravam estava errado, mas vai além, ensinando-os como se deve orar. No que é conhecido como a oração do Pai Nosso, Jesus nos fornece não uma lista de palavras para serem repetidas, e sim um padrão que devemos aplicar às nossas orações. No meio então, de um de Seus grandes ensinamentos, Cristo se preocupa em nos dar as diretrizes necessárias para sabermos qual é o modo como devemos falar com o Pai. Isso indica o quão essencial a oração é para um cidadão do Reino dos céus.
O segundo exemplo marcante que gostaria de pontuar é quando o apóstolo Paulo trata sobre a questão da oração no capítulo 12 de sua carta aos romanos. No meio de uma longa série de exortações, o apóstolo afirma que devemos nos alegrar na esperança, ser pacientes na tribulação e “na oração, perseverantes” (Romanos 12.12). Aqui, Paulo está indicando que a oração não é meramente um item que compõem a lista de atividades que um cristão deve cumprir. Ao utilizar a palavra traduzida por “perseverar”, Paulo indica que a oração é uma tarefa que requer ação constante de nossa parte.
Se olharmos para outros escritos de Paulo e até de Lucas, que conviveu com o apóstolo, vemos a ênfase que eles dão quanto à necessidade de perseverar na oração e de quão constante essa ação deve ser. Em Atos 2.42, ao falar sobre os primeiros convertidos em Jerusalém, Lucas indica a perseverança na oração como uma ação constante quando afirma: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (ênfase do autor). Paulo, por sua vez, na carta aos colossenses, declara a todos: “Perseverai na oração, vigiando com ações de graças” (Colossenses 4.2 - ênfase do autor). Por fim, podemos mencionar ainda o que o apóstolo Paulo diz em 1 Tessalonicenses 5.17, que reforça a necessidade de constância na prática da oração: “Orai sem cessar”.
Só de olhar para esses exemplos citados e todas essas passagens mencionadas acima, temos uma pequena amostra de quanta ênfase a Palavra de Deus dá para a questão da oração. Se a Palavra de Deus dá tanta importância para algo relacionado à vida cristã, isso precisa ser bem compreendido por nós. Uma vida de oração deve ser uma característica de todo cristão. Isso está na essência de um cristão e por isso deve fazer parte do nosso dia a dia.
Com base nessas informações retiradas do Novo Testamento, podemos entender que a vida de qualquer pessoa que se declara cristã precisa ser uma vida de perseverança na oração. Precisamos ter em mente que o perseverar em oração pode ter vertentes diferentes para diferentes tipos de pessoas, ou seja, a forma como cada um de nós persevera na oração pode ser diferente. Entretanto, há um certo padrão que claramente não reflete a importância que a oração deveria ter, ou melhor, não se enquadra no que pode ser considerado uma vida perseverante na oração. Quando algo é realmente importante para nós, não nos lembramos apenas em situações específicas ou em momentos de extrema necessidade. Da mesma forma, quando nos lembramos da oração apenas quando crises acontecem em nossa vida, quando precisamos de alguma coisa, ou quando vamos fazer uma refeição, isso não me parece encaixar perfeitamente na definição de perseverar na oração. Isso só demostra que não valorizamos aquilo que deveria ser vital para todo cristão.
Agora, um ponto que vale ser destacado é que o estudo da Palavra de Deus está diretamente ligado com uma vida de perseverança na oração. Sem conhecer a Palavra, nós não saberemos como orar. Ou seja, é somente quando estudamos a Palavra de Deus e por meio dEla entendemos a nossa real condição de pecadores, que somos capazes de saber como e porque devemos orar.
Quando verdadeiramente entendemos a Palavra de Deus, podemos enxergar que a oração não é uma tentativa de fazer Deus agir conforme a nossa vontade. Pelo contrário, a oração é para nos alinhar com a vontade dEle e nos fazer agir conforme Ele quer. Enxergamos também, que há motivos pelos quais podemos orar. Vemos que não devemos orar apenas pelas nossas necessidades, mas por necessidades que as pessoas ao nosso redor possuem. E, em última análise, ao entendermos a Palavra de Deus, enxergamos que devemos orar, pois Deus nos ordena isso, e devemos fazer o que Ele declara.
Ao adquirir tal compreensão quanto a oração, mediante o estudo da Palavra, entenderemos também que quando oramos e Deus atende, é para que o nome dEle seja exaltado. Vemos isso em João 14.13: “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho” (ênfase do autor). Por meio da oração trazemos gloria ao nosso Deus.
Dessa forma, uma vida de oração pode e deve ser entendida por nós como uma característica que é essencial para todo cristão. Ela vai contra a nossa natureza pecaminosa e não é opcional, ela é mandatória, pois está diretamente conectada à essência do cristão. Sem ela não atingimos por completo o nosso propósito, que é glorificar o nome de Deus².
Editorial de Caio Pascote
¹ HODGE, C. Systematic theology. Oak Harbor: Logos Research Systems, 1997, vol. 3, p. 692.
² Este texto foi baseado nos sermões de: John Piper - Be Devoted to Prayer; e John MacArthur - The Purpose of Prayer.
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