Você já se imaginou decidindo o que faria com alguns milhões que ganhou na loteria? Ou fazendo o gol decisivo de uma final de Copa do Mundo? Ou ainda atraindo olhares de todos ao entrar em um ambiente por causa de sua aparência física? Presidindo uma multinacional, sendo respeitado e temido por dezenas de milhares de funcionários?
Por mais distantes que estas situações possam estar da maioria de nossas realidades, não é raro observarmos nossas mentes se deliciando com elas. O que imaginamos nestas horas mostra muito do que ocorre em nossos corações, do que valorizamos, do que desejamos, já que, em grande parte das vezes, estas situações evidenciam um mundo repleto de benefícios sem qualquer custo. Este mundo nos oferece "grandes coisas", "coisas maravilhosas demais" que têm como objetivo principal nos satisfazer como já evitava o salmista:
“SENHOR, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim.”
Salmos 131.1
Sutilmente, a imaginação distorce a realidade em que vivemos, atuando da seguinte maneira a fim de atacar alguns dos pilares de uma vida de santidade:
Abrandando o pecado
A imaginação nos familiariza com as imagens do pecado. Faz-nos esquecer o quão repugnante ele é e o quanto Deus nos ama. Ela disfarça a mediocridade com delícias e prazeres transitórios. Ela coloca em dúvida o amor de um Deus que nos priva de satisfazermos o desejo que há em nós, de agirmos conforme os nossos próprios planos sem a interferência de ninguém. Ela cria ansiedade em nossos corações, agita-nos, leva-nos a buscarmos a satisfação desses sonhos que são por ela criados. Atua como um filtro que nos permite enxergar a realidade da maneira que nos convém.
Impondo uma rotina espiritual superficial
A imaginação nos desprende do que estamos fazendo na tentativa de agradar a Deus, levando-nos a uma rotina fria em que nossa atenção é desviada para nossos próprios desejos. Ler a Bíblia se torna algo cansativo, orar se restringe a algumas palavras antes das refeições, prestar atenção à pregação da Palavra dá lugar à atenção aos segundos que passam no relógio, louvar passa a ser simplesmente a repetição de palavras cujo significado não nos diz respeito. Obedecemos de modo superficial, como se nem mesmo estivéssemos presentes no corpo que se ocupa de gestos, palavras e movimentos vazios.
Desguarnecendo o coração
A imaginação afasta nossa mente dos deveres que temos para com nosso Salvador. Tira-nos o foco daquilo que é eterno, colocando-o no universo imaginário que tentamos fazer virar a realidade. É dessa maneira que nossas afeições se distanciam de Deus, não contando com a proteção da mente, que, iludida, deixa o coração desguarnecido. Não temos prazer em seguir o que Ele escolheu para nossas vidas, esfriando nosso amor para com Ele. Nesta hora, a vontade não pode mais resistir. A não ser que haja uma interferência de Deus no processo, o pecado tomará lugar, arrastando-nos para um mundo muito diferente do que imaginamos. Um mundo no qual as consequências negativas do pecado nos envelhecem os ossos (Salmos 32.3). As afeições seguem aquilo que é visto como desejável por nossas mentes. Logo, uma mente contaminada por uma imaginação egocêntrica gerará inevitavelmente grandes perigos ao coração, o que, por sua vez, acaba por controlar nossas vontades.
Como respostas às investidas de nossa carne, que faz uso de nossa imaginação distorcida, somos orientados pela Palavra de Deus a guardar mais nossos corações do que qualquer outra coisa:
“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida.”
Provérbios 4.23
Para empregarmos nossas mentes de maneira apropriada no trabalho de proteção do coração é necessário que o objeto de nossa imaginação se altere. Seguindo o exemplo de Jesus ressaltado em:
“Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.”
Hebreus 12.2
Devemos nos empenhar em imaginar a alegria que nos está proposta, nos deleites eternos que o Senhor nos oferece em troca dos prazeres transitórios do pecado (Hebreus 11.25).
Devemos amar a vinda de Cristo (2 Timóteo 4:8), devemos amar a Cristo, obedecendo aos seus mandamentos (João 14.21), que nos permitem viver uma vida de santidade com uma mente que se empenha em proteger nosso coração.
Imagine o que é eterno, "a glória por vir a ser revelada” (Romanos 8.18) e não deixe que a incredulidade de uma imaginação distorcida por seus desejos egocêntricos afaste a sua mente da verdade, distanciando seu coração do deleite que há em Cristo.
Editorial de André Negrão
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