O fato de uma situação ser difícil não significa, necessariamente, que seja uma situação ruim. É fato que situações difíceis nos tiram da nossa zona de conforto, mas também é fato que, quando lidamos bem com uma situação difícil, aprendemos coisas muito importantes.
Não sei se você conhece a história de Terry Waite. Ele é um homem britânico que trabalhou por muito tempo negociando a liberdade de reféns — fez isso no Irã, na Líbia e em outros países na década de 80. Bem no começo de 1987, ele foi para a Líbia para tentar libertar um homem que tinha sido levado cativo pela Jihad. Em 20 de janeiro daquele ano, ele concordou de se encontrar com os captores dos reféns porque eles tinham prometido segurança para essa visita. O problema é que eles quebraram esse combinado e mantiveram Terry cativo por quase quatro anos, sendo liberto só em 18 de novembro de 1991. Em 1993, Terry escreveu um livro sobre o que aconteceu, e um trecho desse livro diz o seguinte:
“Eu estava determinado durante meu cativeiro, e ainda estou determinado, a converter essa experiência em algo que será útil e bom para outras pessoas. Eu penso que é assim que devemos abordar o sofrimento. Parece-me que o cristianismo não diminui de forma alguma o sofrimento quando faz isso. O que ele faz é permitir que você o pegue, o encare, se esforce para vencê-lo e, eventualmente, o converta em algo bom”.¹
Nesse sentido, o nosso objetivo não deve ser — e não pode ser — evitar situações difíceis, mas aprender a passar bem por elas. E para lidar bem com qualquer tipo de dificuldade que possa vir sobre você, é essencial que você tenha uma visão correta de Deus e de Sua Palavra. Não existe a menor possibilidade de vencermos as dificuldades se não estivermos perto de Deus e da Sua Palavra!
Agora, a pergunta que fica para nós é: Qual a abordagem adequada ao desânimo e às dificuldades? Como nos manter encorajados e consolados? Paulo nos ajuda a entender isso em 2 Coríntios 1.3–7 — principalmente nos versos 3 e 4.
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação! É ele que nos consola em toda a nossa tribulação, para que,
pela consolação que nós mesmos recebemos de Deus,
possamos consolar os que estiverem em qualquer espécie de tribulação.”
(2 Coríntios 1.3–4 — Ênfase do autor)
O que é esse encorajamento que Paulo está falando?
A palavra que Paulo usa aqui traz tanto a ideia de conforto quanto de encorajamento. Mas esse conforto e encorajamento que Paulo tem em mente não tem nada a ver com um sentimento superficial e pequeno de satisfação. Não é uma dose tranquilizadora que apenas posterga as dores. O conforto e o encorajamento que Deus nos oferece é muito mais forte do que isso; eles fortalecem o nosso coração e nossa mente. O encorajamento e o consolo que Deus nos concede em Si mesmo e em Sua Palavra são fortes o suficiente para nos sustentar, para nos mover à perseverança e para nos animar, de tal modo que consigamos enfrentar os problemas e as dificuldades da vida com determinação e segurança.²
Esse é o encorajamento que Deus nos concede — um encorajamento capaz de nos animar e mover em meio às circunstâncias mais complicadas e desanimadoras. E é óbvio que todos queremos isso, nós queremos encorajamento e consolo, nós queremos ânimo pra continuarmos firmes... mas onde e como podemos encontrar isso?
Não há encorajamento fora de Deus
Eu não quero que você desanime com o que eu vou falar, ou que encare de forma simplista, mas a resposta a essa pergunta é, de certa forma, simples: nós só encontramos consolo e encorajamento em Deus. Não há nada disso fora de Deus. Essa é a primeira verdade que nós precisamos compreender. Não há encorajamento fora de Deus! Ele é o Deus de todo encorajamento e consolo!
Isso é o que Paulo diz nos versos 3–7. Ele enfatiza isso ao usar 3 vezes a palavra “todo/toda”: Ele é o Deus de todo encorajamento, que nos encoraja em todas as aflições, para que possamos encorajar todas as pessoas que também passam por aflições. Todo encorajamento vem do Senhor, e Ele é suficiente para nos encorajar em todas as aflições. E isso nos leva, consequentemente, a outra verdade: Deus nem sempre remove as aflições que surgem em nosso caminho, mas Deus sempre conforta, nos dando a coragem necessária para enfrentá-las. Essa realidade nos deixa uma questão muito prática: se o nosso encorajamento e conforto estão em Deus, precisamos gastar tempo buscando-O.
Todo encorajamento deve ser externado
Finalmente, Paulo nos mostra que um dos propósitos de Deus no sofrimento dos cristãos é que eles experimentem conforto direto e pessoal de Deus para que, a partir dessa experiência, possam ministrar este a outros.³ O conforto de Deus não tem a intenção de ficar retido conosco. Deus sempre nos dá a mais, justamente porque a vontade dEle é que aquilo que nós recebemos transborde para os outros. Deus nos dá não apenas o que precisamos para nós mesmos em nossas situações, mas para nos apoiar na tarefa de fortalecer os outros.²
E um detalhe importante: nós encorajaremos outros ao mostrar Cristo para eles, e não a nós mesmos. É por isso que você não precisa passar exatamente pela mesma situação que outra pessoa passa para poder encorajá-la. Você foi encorajado por Cristo? Você foi consolado por Cristo? Então você está pronto para encorajar e consolar outras pessoas. Não é porque você sofreu que você pode ajudar; é porque você foi encorajado e confortado por Deus que você pode ajudar.
Esse Deus, que é o Pai de misericórdias e o Deus de todo encorajamento, é digno de toda adoração, independentemente do que temos passado (2 Coríntios 1.3). E Ele não nos encoraja e conforta para nos deixar confortáveis, mas para que nos tornemos confortadores e encorajadores.
Com isso em mente, o desafio que eu quero deixar a todos nós é focar, durante nossas conversas, não nas incertezas e dificuldades da vida, mas em Deus — nosso Pai misericordioso e de todo encorajamento — e naquilo que temos aprendido, para que possamos, como Paulo, sermos instrumentos de encorajamento e consolo às pessoas que estão à nossa volta.
Editorial de Gustavo Santos
¹ WAITE, Terry, Taken on Trust, London: Hodder & Stoughton, 2016, p. 37.
² GARLAND, David E., 2 Corinthians, Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 1999, p. 60; 64.
³ HAFEMANN, Scott J., 2 Corinthians, in: ESV Study Bible, Wheaton, IL: Crossway Bibles, 2008, p. 2223.