À procura de um tolo
O livro de Provérbios claramente faz uma comparação entre o tolo e o sábio. Porém, nesse livro há diferentes palavras em hebraico que descrevem vários tipos de tolo, desde a criança imatura, passando pelo rebelde sem limites, por aquele que é tomado pela ira e até o louco que quer viver sem Deus. No versículo abaixo vemos também que há diferentes níveis de tolo: ingênuos (não tem muita sabedoria), zombadores (debocham da sabedoria) e os que detestam a sabedoria.
“Até quando vocês, ingênuos, insistirão em sua ingenuidade?
Até quando vocês, zombadores, terão prazer na zombaria?
Até quando vocês, tolos, detestarão o conhecimento?”
(Provérbios 1.22)
A tolice, portanto, tem níveis que levam a uma cegueira espiritual progressiva. A jornada do tolo começa ainda na infância e se desenvolve durante a vida, através de um coração que despreza a sabedoria e o conhecimento de Deus.
“O temor do Senhor é o princípio do conhecimento,
mas os tolos desprezam a sabedoria e a disciplina.”
(Provérbios 1.7)
Sejamos práticos, como lidar com os tolos que surgem em nossas vidas?
Um estudo das palavras relacionadas a tolo, em Provérbios, pode nos ajudar a lidar com o tolo. Por exemplo, a palavra Kesil: tolo, ignorante, néscio.
“Não responda aos argumentos insensatos do Kesil, para que não se torne tolo como ele.
Responda aos argumentos insensatos do Kesil, para que ele não se considere sábio.”
(Provérbios 26.4, 5 – ênfase do autor)
Assim, há situações que precisam de nosso silêncio e outras de nossa confrontação. Para decidir como agir, é necessário um estudo mais profundo de Provérbios, nos preparando para sermos sábios em frente aos tolos. Com um estudo dedicado, o Espírito nos recordará da Palavra em nossos corações, em cada situação. Bom, mas saber lidar com os tolos ainda não ajuda a saber quem é o tolo.
Afinal, quem é esse tolo?
Se Salomão chama seu aprendiz de “filho meu” no livro de Provérbios, poderíamos deduzir que seu herdeiro Roboão seria o exemplo ideal de tolo, pois vemos a evolução de sua tolice ao não seguir os conselhos de seu pai e finalmente, por sua vaidade e orgulho, causar a divisão da nação. Porém, faltam detalhes sobre esse personagem. Mas, o melhor exemplo do tolo de Provérbios não está nesse livro, mas em Eclesiastes, outro livro escrito por Salomão.
“Melhor é um jovem pobre e sábio, do que um rei idoso e tolo,
que não mais aceita repreensão. O jovem pode ter saído da prisão e chegado ao trono,
ou pode ter nascido pobre no país daquele rei. Percebi que, ainda assim,
o povo que vivia debaixo do sol seguia o jovem, o sucessor do rei.
O número dos que aderiram a ele era incontável. A geração seguinte, porém,
não ficou satisfeita com o sucessor. Isso também não faz sentido, é correr atrás do vento.”
(Eclesiastes 4.13-16)
Salomão concluiu que “esse tolo sou eu!”. Sim, pois quem é o rei idoso (Salomão) e teimoso que valia menos que o jovem pobre e sábio que chegou a ser rei (Davi)? Quem é o rei que não conseguiu educar seu sucessor (Roboão) na sabedoria? Esse tolo era Salomão, que escancarou sua tragédia pessoal em Eclesiastes para mostrar que a sabedoria de Deus, registrada em Provérbios, foi como um espelho que ele confeccionou ao escrever o livro, mas que não o encarou para mudar, como fez Davi. A tolice cegou o mais intelectual dos homens, o qual, mesmo escrevendo sobre a Sabedoria de Deus, viveu uma vida tola e cheia de vaidades.
“Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.”
(Romanos 1.22)
Esperança para os tolos
Qual o segredo do sucesso de Davi com relação à sabedoria de Deus, que Salomão não aplicou? A sabedoria de Provérbios nos dá a resposta.
“Como é feliz o homem constante no temor do Senhor!
Mas quem endurece o coração cairá na desgraça.”
(Provérbios 28.14)
Davi tinha o temor do Senhor, por isso era sábio espiritualmente. Salomão era sábio em intelecto, mas era tolo em relação a Deus. Mas isso ele só reconheceu no final da sua vida.
“Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão:
Tema a Deus e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem.
Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito,
inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mau.”
(Eclesiastes 12.13, 14)
E essa conclusão serve para cada um de nós. Nossa sabedoria e nosso conhecimento podem ser apenas um disfarce para nosso orgulho e vaidade, para corrermos feito loucos atrás do vento. Como Davi, precisamos aprender a viver uma vida simples, temendo a Deus e guardando os seus mandamentos.
“Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes.
Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim.
De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma.
Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe;
a minha alma é como essa criança. Ponha a sua esperança no Senhor, ó Israel,
desde agora e para sempre!”
(Salmo 131.1-3)
Editorial de Nilson Silva