Conforme vimos na semana passada, Deus nos deixou uma ordem de trabalhar desde o princípio (Gênesis 1.28; 2.15). No ano passado, também refletimos sobre a origem do trabalho, bem como sobre seu objetivo e a pressão que pode acompanhá-lo. Essa pressão é onde focaremos hoje, ao tentarmos mostrar os perigos que temos ao, fugindo da preguiça, entrarmos em um ciclo de trabalho desenfreado, que pode levar à exaustão (algo que tantos hoje chamam de burnout), a prioridades trocadas e até ao vício — como definido pela palavra workaholismo.
A origem da exaustão
Voltamos novamente ao jardim do Éden, local em que Deus tinha designado o homem para cultivar e guardar. A narrativa segue por não muito tempo até nos depararmos com o pecado. Esse evento mudou tudo e o trabalho foi explicitamente afetado quando Deus disse:
“No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra,
pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás.”
(Gênesis 3.19)
A partir daí ficou claro que o trabalho não seria necessariamente algo prazeroso, mas que exigiria esforço e dedicação, o que, por sua vez, poderia levar rapidamente à exaustão caso não feito com uma visão correta, e sem uma perspectiva bíblica sobre o descanso (Êxodo 20.9–11).¹
O conflito de prioridades
Como muitas vezes o trabalho é visto por nós como uma forma de alcançarmos o que desejamos, perdemos de vista seus reais objetivos, que são cuidar dos nossos (1 Timóteo 5.8) e acudir ao necessitado (Efésios 4.28). Dessa forma, começamos a correr atrás do vento, querendo juntar mais e mais:
“Mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe,
a fim de dar àquele que agrada a Deus.
Também isto é vaidade e correr atrás do vento.”
(Eclesiastes 2.26b)
O vício do trabalho
Na ânsia de ter mais recursos por meio de nosso trabalho, podemos recair no hábito prejudicial de trabalhar cada vez mais. Em vez de acudir ao necessitado, podemos acumular coisas para nós, e o trabalho se torna o meio pelo qual esses desejos são satisfeitos. Da mesma forma, podemos usar o trabalho como escape de outras situações e responsabilidades, o que também é oriundo desse conflito de prioridades. Em vez de cuidar dos nossos, podemos fugir para o trabalho, pois às vezes é mais fácil realizar tarefas do que lidar com pessoas, por exemplo.
A solução libertadora
Como para qualquer problema oriundo do pecado, a solução para ser liberto da destruição causada por uma visão errada do trabalho vem do Pai. A confiança de que Ele nos sustém e provê para todas as nossas necessidades (Mateus 6.26–31), deve nos livrar da exaustão causada por horas infindáveis de trabalho que nem sempre são recompensadas. É a confiança no Senhor que estabelece os nossos desígnios (Provérbios 16.3)!
Isso significa então que Deus faz tudo e nós não fazemos nada? Certamente não!
“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam;
se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.
Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde,
comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem.”
(Salmo 127.1, 2 – ênfase do autor)
Por mais que o resultado do trabalho só possa ser garantido pelo Senhor, ainda é necessário aos trabalhadores edificarem a casa e às sentinelas vigiarem a cidade. Contudo, o trabalho não deve ser feito de maneira penosa, mas com a confiança de que Deus está no controle de todas as coisas e, por isso, o descanso pode vir sem ansiedade.
O descanso do Senhor
Além do sono tranquilo, que o Senhor nos dá pela segurança que temos nEle (Salmo 4.8), o descanso de Deus atinge todo o nosso ser, inclusive nossas almas.
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados,
e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim,
porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma.”
(Mateus 11.28, 29)
Que possamos aprender cada vez mais de nosso Senhor Jesus Cristo para que encontremos esse descanso e saibamos dosar com cuidado nossa carga de trabalho, não ficando nos extremos da preguiça e do workaholismo, mas no equilíbrio que nos permita glorificar a Deus com os frutos de nosso trabalho.
Editorial de André Negrão Costa
¹ Para mais sobre o assunto, veja os editoriais: “Descanso como exercício de confiança” e “Ocupados demais para descansar”.
Comments