Muitos de nós já tiveram algum tipo de contato com missionários, seja por algum amigo ou conhecido que foi chamado para levar o evangelho a outro país ou mesmo por meio de notícias e visitas de missionários a sua igreja local. É bem provável que a maioria de nós já tenha pensado o quão difícil é esse tipo de serviço a Deus, o quanto isso demanda esforço, estudo da Palavra e principalmente oração, tanto da parte do missionário em si, quanto das pessoas ao seu redor. Também é muito provável que você já tenha escutado alguma pregação (provavelmente em um culto de missões) em Mateus 28 ou Atos 1, dois textos clássicos sobre missões, e tenha se lembrado de como missões é um dos cernes daquilo que Jesus ordena a sua Igreja fazer.
“Então, Jesus aproximou-se deles e disse:
Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a obedecer a tudo o que eu ordenei a vocês.
E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos.”
(Mateus 28.18-20)
A ordem é clara: vão e façam discípulos de todas as nações. Mas, ao olharmos o início do livro de Atos (onde essa ordem se repete numa roupagem levemente diferente), vemos algo curioso: Pedro, um dos discípulos que estava presente em ambos os momentos em que essa ordem é relatada, permanece em Jerusalém na maior parte do tempo, sendo reservado a Paulo (que nem estava presente no momento dessa ordenança), a tarefa de ir “até os confins da terra”. Assim, fico imaginando qual dos dois apóstolos cumpriu melhor a Grande Comissão. E, olhando para o livro de Atos, entendo que ambos a cumpriram, mas cada um teve um campo missionário diferente. Se Pedro e todos os outros discípulos tivessem saído logo após o dia de Pentecostes, não teríamos o modelo de igreja saudável dado em Atos 2, nem os inúmeros exemplos que essa igreja nos dá durante o livro de Atos. Por outro lado, se Paulo não tivesse empreendido suas viagens missionárias, várias igrejas deixariam de ser fundadas e não teríamos todas as instruções deixadas em todas as suas cartas. Todos esses cristãos eram missionários (como nós somos) e isso tem uma relação íntima com seguir a Jesus.
“Todos somos missionários...”
Todo cristão é comissionado a fazer alguma coisa no Reino de Deus ligado a “fazer discípulos” e, nesse sentido, somos todos missionários ansiando cumprir as ordenanças de Cristo. Isso significa que tudo aquilo que pensamos que é essencial no trabalho missionário (já listamos a questão do estudo da Palavra, oração e esforço, mas podemos somar a isso o desprendimento e a disposição para sacrificar seu próprio conforto) também é necessário para nós. É comum não darmos tanta importância a esses elementos quando pensamos em nossas missões na igreja local, a “nossa Jerusalém”, enquanto ressaltamos isso tudo para as missões “nos confins da Terra”. Nossas missões de pais, líderes de nossas casas, conselheiros e professores de EBD sempre nos parecem mais simples e menos importantes, sendo a maior prova disso o fato de que não oramos tanto por pessoas que são comissionadas a fazer essas tarefas quanto oramos por missionários em outros países. Devemos lembrar que o Deus que missionários transculturais servem é o mesmo que um casal jovem com uma criança recém-nascida serve e que nenhuma das duas missões será bem-sucedida sem a atuação sobrenatural de Deus. Nossas missões são definidas nEle, não havendo ordem de importância; somos todos pecadores dependentes da graça para fazermos aquilo que Deus ordena.
“... pois fazer missões é imitar a Cristo.”
O fato de sermos todos missionários não vem apenas pelo fato de querermos seguir as ordenanças de Cristo, mas também por querermos imitar o proceder de Cristo, como Paulo em 1 Coríntios 1.11. Podemos perceber isso analisando a oração sacerdotal de Jesus, em João 17, que muito se assemelha com um documento de prestação de contas de um missionário. Jesus deixa claro naquele texto que ele tinha a consciência de que tinha uma missão, que ela tinha sido dada pelo Pai e que Ele a havia cumprido com perfeição. Ele mesmo nos dá o modelo: assim como ele precisou se encarnar, tendo que se “despir” da glória que tinha como Deus e se “vestir” da nossa humanidade para cumprir sua missão de levar a vida eterna àqueles que Deus havia dado a ele, nosso esforço também gira em torno de entrar no mundo daqueles a quem iremos ministrar para levarmos a mensagem contextualizada, que efetivamente fale aos seus corações. Assim como ele vivia na dependência de Deus, cumprindo perfeitamente a sua vontade e O buscando em oração, assim também devemos fazer, deixando as nossas vontades de lado e nos preocupando com aquilo que Deus deseja que façamos, expressando sempre nossa dependência nas nossas orações constantes.
Olhando para o exemplo da igreja primitiva e do próprio Cristo, vemos que não temos escolha. Se desejamos seguir a Jesus, nossa resposta deve ser “Sim, eu quero ser um missionário”. Esse é o primeiro passo para melhor entendermos e cumprirmos nosso papel como Igreja de Cristo, nos preocupando sempre em obedecer nosso Mestre e fazendo discípulos de todas as nações – mesmo que não precisemos ir muito longe para isso.
Editorial de Petrônio Nogueira